segunda-feira, 24 de maio de 2010

Senso comum e conhecimento científico.

Do senso comum ao conhecimento científico vai uma distância considerável, apesar de que, ao longo dos tempos se verifique uma aproximação.
O primeiro baseia-se nos sentidos, crenças, tradições, acredita no que vê ou sente, é fruto das experiências do cotidiano ou naquilo que se tornou evidente através da evolução da ciência. Esta por sua vez procura através do raciocínio objetivo, assente na faculdade racional do ser humano e em métodos experimentais, a comprovação daquilo que os sentidos nos mostram.

Principais características do senso comum:
  • Caráter empírico - o senso comum é um saber que deriva diretamente da experiência cotidiana, não necessitando, por isso de uma elaboração racional dos dados recolhidos através dessa experiência.
  • Caráter acrítico - não necessitando de uma elaboração racional, o senso comum não procede a uma crítica dos seus elementos, é um conhecimento passivo, em que o indivíduo não se interroga sobre os dados da experiência, nem se preocupa com a possibilidade de existirem erros no seu conhecimento da realidade.
  • Caráter assistemático - o senso comum não é estruturado racionalmente, tanto ao nível da sua aquisição, como ao nível da sua construção, não existe um plano ou projeto racional que lhe dê coerência.
  • Caráter ametódico - o senso comum não tem método, ou seja, é um saber que não segue nenhum conjunto de regras formais. Os indivíduos adquirem-no sem esforço e sem estudo.
  • Caráter aparente ou ilusório - como não há preocupação de procurar erros, o senso comum é um conhecimento que se contenta com as aparências, formado por isso, uma representação ilusória, deturpada e falsa, da realidade.
  • Caráter coletivo - o senso comum é um saber partilhado pelos membros de uma comunidade, permitindo que os indivíduos possam cooperar nas terefas essencias à vida social.
  • Caráter subjetivo - o senso comum é subjetivo, por que não é objetivo: cada indivíduo vê o mundo á sua maneira, formando as suas opiniões, sem a preocupação de testá-las ou de fundamentá-las num exame isento e crítico da realidade.
  • Caráter superficial- o senso comum não aprofunda o seu conhecimento da realidade, fica-se pela superfície, não procurando descobrir as causas dos acontecimentos, ou seja, a sua razão de ser que, por sua vez, permitiria explicá-los racionalmente.
  • Caráter particular - o senso comum não é saber universal, uma vez que se fica pela aquisição de informações muito incompletas sobre a realidade (por isso também se diz que ele é fragmentado), não podendo, assim, fazer generalizações fundamentadas.
  • Caráter prático e utilitário - o senso comum nasce da prática cotidiana e está totalmente orientado para o desempenho das tarefas da vida cotidiana, por isso as informações que o compõem são o mais simples e diretas possível.
Principais características do conhecimento científico:
  • O conhecimento científico baseia-se na evidencia verificável. Isto significa que os seus resultados e conclusões podem ser sempre verificados ou confirmados por outras pessoas. Todas as conclusões devem permanecer abertas, pois no futuro podem aparecer justificativas mais razoáveis. Além disso a ciência nunca é detentora de verdades absolutas.
  • A ciência é eticamente neutra, mas o cientista, por ser um indivíduo, não o é, cada um de nós tem um sistema de valores que influencia a sua vida em sociedade. Desta forma, quando se produz energia nuclear, em paz é para produzir eletricidade, mas em guerra pode ser para produzir mísseis.
  • O conhecimento científico tem por base técnicas específicas para recolher dados, que garantem: exatidão (dados que correspondem aos fatos), e a precisão (dados que refletem bem a medida, o grau desses fatos observados), assim a investigação científica baseia-se numa recolha sistemática dos dados, que devem logo ser registrados, e tudo deve ser feito com objetividade, não devendo ser influenciados por preferências, crenças, desejos e valores.
O senso comum e a ciência.
O senso comum é um saber que se adquire através da vida que se leva em sociedade, por isso, é um saber informal adquirido de forma espontânea através do contato com o próxino, com situações e objetos que rodeiam o indivíduo.

Apesar de suas limitações, o senso comum é fundamental, sem o qual os membros integrantes da sociedade não conseguiriam orientar-se na sua vida cotidiana.

É um saber muito simples, superficial e informal, que não se exige grandes esforços nem bases consistentes que atestam a sua veracidade ou proveniência, ao contrário das ciências, que assentam em conhecimentos formais porque requerem um longo processo de aprendizagem/conhecimento.

A idéia de que todo cientista é uma pessoa de inteligência incontestável é amplamente divulgada pela mídia e essa divulgação não é gratuíta. Com essa imagem de "ser superior" o cientista torna-se um formador de opinião, induzindo o pensamento das camadas populares e vendendo produtos nos comerciais de televisão. Só que a realidade passa longe disso.

Um indivíduo é considerado cientista quando se especializa em um determinado assunto e essa especialização parte de um conhecimento prévio do indivíduo. Em outras palavras, todo indivíduo dotado de um conhecimento prévio comum a todos pode buscar uma especialização. Mas o que é esse conhecimento prévio? É o que se costuma chamar de senso comum.

O senso comum e a ciência partem do mesmo princípio: a necessidade do homem de compreender o mundo e a si mesmo. O ser humano, por milhares de anos, viveu numa sociedade em que não havia ciência e mesmo assim deu continuidade ao processo de evolução. É preciso compreender que sendo a ciência um refinamento do senso comum, devemos então respeitá-lo e não desprezá-lo, já que esse serve de ponto de partida para aquela ou seja a ciência.

Ciência e Educação, vol. 15 nº 3, 2009.
Docio,L; Razera, J. C. C.; Pinheiro, U. S.




domingo, 16 de maio de 2010

BLOGS COMO FERRAMENTA PARA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA




As informações digitais são novas ferramentas para facilitar o envolvimento do público geral nas discussões sobre ciência. Essa participação nas discussões científicas inclui criatividade científica individual, etnociência, conhecimento local e discurso público. A internet tem se tornado uma parte da comunicação científica e ainda não está claro como mídias como fóruns e blogs podem contribuir para os debates da ciência. As pessoas “leigas” podem por esse meio, não serem apenas agentes passivos (receptores) de assuntos científicos, mas podem contribuir com esses debates.

“Blog” é uma webpágina que facilita a comunicação informal entre o autor do blog e seus leitores. Os blogs sobre ciências são um potencial modelo de jornalismo científico e uma ótima ferramenta que pode ser utilizada por instituições acadêmicas para disseminar a informação acadêmica e facilitar a discussão sobre ciência e, ainda, para suprir o déficit de comunicação científica. Os blogs geralmente são comentários jornalísticos e estudantis ao invés de análises baseadas em pesquisa. Para envolver o público o blog precisa: informar leitores sobre notícias científicas, explicar de forma entendível para “leigos”, avaliar resultados de pesquisas já realizadas, articular posições sobre assuntos controversos.

Kouper (2010) fez um estudo sobre os blogs relacionados à ciência, pois não havia nenhum estudo sobre essa nova ferramenta. Devido à novidade da pesquisa, a avaliação dos blogs foi baseada nos participantes, fontes de blog, conteúdos dos tópicos e modos de participação. Foram amostrados da internet 11 blogs pela procura por “science blogs” e “blogs about science” e esses foram “seguidos” durante o verão de 2008 (por 30 dias os blogs menos ativos e por 5 dias muito ativos). O número de comentários amostrados foi limitado aos primeiros 15 comentários por tópico (ao todo, 174 tópicos globais e 1409 comentários dos 11 blogs foram analisados).

Os blogs de ciência cobriram uma variedade de assuntos e tópicos além de ciência. Entre os tópicos relacionados à ciência os tópicos freqüentemente mais cobertos eram evolução, saúde, e espaço. Sendo um gênero mais pessoal de comunicação, blogs permitem maior variabilidade de expressão, e os autores confiaram em sua experiência pessoal, notícias e comentários de outras mídias e documentos de pesquisas para escrevem os textos. Os autores do blogs de ciência examinados são relacionados de alguma forma à ciência: estudantes especialistas em alguma área, pesquisadores, professores de certas disciplinas (como Biologia e Física) e jornalistas científicos.

Uma das características dos blogs é o uso de exageros e generalizações. Os autores de blog usam esta técnica jornalística para chamar a atenção dos leitores, às vezes até de forma sensacionalista. Deste modo, as notícias ficam mais divertidas, contudo pode impedir que os leitores adquiram informações precisas e que formem sua própria opinião, sendo então difícil confiar nessa fonte de informação. A intenção de fazer algo compreensível para o público nem sempre pode alcançar o seu objtetivo e, além disso, há muitas opiniões emocionais e comentários insultantes em alguns blogs mais “polêmicos”.

Leitores de blogs de ciência também tiveram alguma relação com ciência. Eles são estudantes, pós-doutorandos, professores e investigadores de várias áreas científicas. A leitura de blogs e os comentários é uma necessidade para que esses adquiram notícias de várias áreas científicas e de haver diálogo com os autores.

O autor do estudo admite ter havido várias limitações na pesquisa. Devido ao número pequeno de posts e comentários, poderiam ter sido negligenciados certos modos importantes de participação. O papel de humor em comunicação de ciência e interpretação de coletivo de conhecimento também precisa ser examinado. E deve ser analisado também os leitores que apenas sequem os conteúdos, mas não postam comentários (lurkers). E conclui que, em relação aos blogs referentes à ciência, é necessário um esforço em comum de cientistas, jornalistas, pedagogos, e outros grupos de atores para repensar o papel de blog na promoção da participação na ciência. Blogs científicos devem propiciar a participação de pessoas não-cientistas, focalizar em modos explicativos, interpretativos e críticos ao invés de apenas informar e opinar.

Esse texto abre espaço para pensarmos e fazermos uma avaliação sobre o nosso blog. Qual o objetivo do blog “BIOPIBIDUFSJ”? Quem são os autores do blog? Quem são os leitores do blog? Quais são as formas de participação dos leitores?


Blogs pesquisados por KOUPER (2010):

scienceblogs.com/purepedantry

scienceblogs.com/drugmonkey

scienceblogs.com/scientificactivist

scienceblogs.com/pharyngula

www.wired.com/wiredscience

blog.bioethics.net

blogs.discovermagazine.com/cosmicvariance

www.pandasthump.org

scienceblog.com

www.microbiologybytes.com/blog

www.syntesis.cc


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KOUPER, I. Science blogs and public engagement with science: practices, challenges, and opportunities. Journal of Science Communication. 9(1), March 2010.





sábado, 15 de maio de 2010

A INFLUÊNCIA DE GRADIENTES LATITUDINAIS E MIGRAÇÃO NA PREVALÊNCIA DE HEMOPARASITOS EM AVES

A transferência de patógenos como hemoparasitos (parasitos do sangue) em aves é algo que ocorre com certa facilidade, uma vez que a maioria delas têm hábitos gregários, uma condição excelente para a transmissão de vários tipos de parasitos e as subsequentes doenças causadas por eles. Porém, a prevalência de doenças parasitárias em aves ocorre diferentemente ao longo do mundo, uma vez que em cada localidade há a presença, ou ausência, de determinada espécie de hemoparasito. Esta diferença se deve a dois fatores principais: os gradientes latitudinais e a migração das aves.

As variações latitudinais são responsáveis pelas diferenças climáticas que existem em todas as partes do nosso planeta, e com isso, tais variações têm influência direta sobre a prevalência de patógenos e, consequentemente, das doenças causadas por eles em diferentes localidades.

Fig. 1 - Tipos de clima.

Segundo trabalhos de MERINO e colaboradores (2008), foi constatado que os efeitos climáticos sobre o comportamento do inseto vetor e o desenvolvimento do parasita foram responsáveis para a relação entre a latitude e a prevalência do parasita aumentando em direção ao Equador, uma vez que em regiões tropicais o clima é mais propício para uma reprodução mais significativa dos vetores responsáveis por transmitir os hemoparasitos, no caso, entre as aves.

Porém, como já dito anteriormente, a migração das aves também exerce grande efeito sobre a prevalência de patógenos, uma vez que uma ave infectada por determinada doença pode transmitir esta para uma outras aves que vives em um local onde comumente não se encontra a doença, uma vez que para isso basta um simples contato entre elas. Com isto, uma doença que não é comum em determinada localidade entre as aves, pode com o passar do tempo, vir a ser.


Fig. 2 - Aves migrando.

O trabalho de MERINO e colaboradores (2008) com aves de florestas no Chile comprovam que a migração funciona como um fator de "pertubação" das variações latitudinais, pois eles verificaram que duas epécies migratórias de aves não foram encontradas nas regiões onde elas residem, porém foram encontradas em outras regiões e infectadas por hemoparasitos. Desse modo, quando estas espécies voltassem para os locais onde costumam residir, elas também levariam estes patógenos e assim os transmitiriam para grande parte de sua população, que mais tarde também migraria para outros locais, inclusive locais onde estes hemoparasitos não eram presentes, onde os disseminariam juntamente com as doenças causadas por eles.

Dessa forma fica claro e evidente que as variações climáticas, devido as variações latitudinais, são as grandes responsáveis pela prevalência diversificada de patógenos nas diferentes localidades do planeta; mas também fica claro que a migração das aves interfere nesta prevalência determinada pelas condiçòes climáticas, uma vez que as aves podem levar hemoparasitos presentes em determinada região para outra onde eles não são comuns. E assim, para uma menor disseminação destes hemoparasitos e das zoonoses causadas por eles, a melhor alternativa ainda é o combate aos insetos vetores.


Referências Bibliográficas:

- MERINO, S.; MORENO, J.; VÁSQUEZ, R. A.; MARTÍNEZ, J.; SÁNCHEZ-MONSÁLVEZ, I.; ESTADES, C. F.; IPPI, S.; SABAT, P. ROZZI, R.; MCGEHEE, S. Haematozoa in forest birds from southern Chile: Latitudinal gradients in prevalence and parasite lineage richness. Austral Ecology, v. 33, pp. 329-340, 2008.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Pequenas grandes mudanças II

Atenção: este texto é independente da parte I, mas esta pode conter informações interessantes para quem não é da área, e auxiliar no entendimento, aqui. Se desejar, acesse aqui o primeiro texto. Da mesma forma, os links espalhados pelo texto remetem a páginas, deste ou de outros sites, contendo informações a respeito dos termos marcados, para caso haja dúvida a respeito deles.

Neste último mês de abril, a revista Journal of Experimental Botany (Revista de Botânica Experimental), uma das revistas mantidas pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, lançou uma edição especial, falando de forma temática sobre o pólen, seu desenvolvimento e controle da polinização (ver figura 1, grãos de pólen de Arabidopsis thaliana). Um dos trabalhos apresentados nesta edição é de um grupo de cientistas estadunidenses e portugueses que conseguiu, de forma inédita, fotografar o crescimento do tubo polínico in vivo, ou seja, dentro da própria planta, viva. Até então, todas as observações deste tipo tinham sido feitas in vitro, ou seja, utilizando-se apenas pedaços do tecido da planta e o grão de pólen para simular uma situação real. A dificuldade de se observar isso diretamente na planta é devida, principalmente, à grande quantidade de camadas de tecidos totalmente opacos do pistilo – órgão feminino da flor, pelo qual o tubo polínico precisa passar para chegar até o óvulo.

Os cientistas que conseguiram fazer isso utilizaram uma técnica chamada microscopia de excitação por dois fótons (2-photon excitation microscopy), a qual consiste basicamente num equipamento que dispara fótons (laser) de baixa energia em direção do que se deseja ver, fazendo com que uma substância fluorescente no objeto emita radiação luminosa, a qual pode ser fotografada. Para isso, é claro, tiveram de colocar uma substância fluorescente no pólen, para que ele pudesse ser visto enquanto desenvolvesse seu tubo. Isto não foi feito diretamente; os grãos de pólen usados foram retirados de plantas transgênicas, que tiveram seus genes responsáveis pelo desenvolvimento do pólen ligados a uma substância chamada GFP (sigla em inglês para “proteína verde fluorescente”) – deste modo, os grãos de pólen, que contêm estes genes ativos, “acendem” quando expostos ao laser, assim como o tubo polínico formado por eles. Uma das imagens obtidas pode ser conferida na figura 2. Na figura 3, uma eletro-micrografia de varredura do estigma da mesma espécie (livre de pólen), para efeito de comparação.

A planta utilizada foi a Arabidopsis thaliana, uma espécie da mesma família da mostarda e que é muito utilizada para experiências em laboratório, especialmente em estudos genéticos e moleculares, devido ao seu rápido desenvolvimento e genoma relativamente pequeno (foi o primeiro genoma vegetal totalmente sequenciado, com cerca de 26.000 genes). O pólen fluorescente foi retirado da Arabidopsis transgênica e colocado no estigma de uma outra Arabidopsis para ter seu crescimento observado, como esquematizado na figura ao lado. Esta observação permitiu que os cientistas, liderados por Alice Y. Cheung, do departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade de Massachusetts (Estados Unidos), confirmassem visualmente a ação de uma série de controles químicos dentro do pistilo, tais como a nutrição do tubo polínico durante o percurso e orientação e velocidade do seu crescimento.

Legal. Mas se você está chegando agora ao mundo da Botânica, ou mesmo da Biologia, pode estar se perguntando o que diabos é tudo isso. Vamos tentar esclarecer, na seção abaixo.


QUEM É O PÓLEN

A evolução dos organismos não segue nenhuma direção pré-definida, mas às vezes uma nova estratégia apresenta tantas vantagens que ela se mantém, indefinidamente. Quando estudamos a evolução das plantas, observando suas estruturas homólogas, vemos que uma dessas grandes estratégias foi o aumento do tamanho do esporófito, acompanhado do aparecimento de funções cada vez mais diversificadas neste estágio reprodutivo. As mais primitivas dentre as espécies de plantas sobreviventes atuais são as Briófitas (ex.: musgos), e nelas o esporófito depende do gametófito para tudo, desde a absorção de nutrientes do solo à transformação da luz do sol em energia química. Nas Pteridófitas (ex.: samambaia), mais recentes e possuidoras de vasos condutores de seiva, o esporófito já é totalmente independente depois de formado, pois possui raízes e folhas para se alimentar e conseguir energia. Este desenvolvimento em tamanho e função dos esporófitos continuou evolutivamente nos outros dois grandes grupos de plantas mais diferenciadas, Gimnospermas e Angiospermas (este último ao qual pertence a Arabidopsis), cujos esporófitos podem chegar a dezenas de metros de altura, como os da figura 4, foto de sequoias.

No entanto, observando-se estes esporófitos tão independentes, grandes e bonitos das Gimnospermas e Angiospermas, fica uma dúvida: PARA ONDE FOI O GAMETÓFITO? Uma regra bem definida dentro do Reino Vegetal (Embriófitas) é que todas as plantas se reproduzem por meio de uma alternância de gerações, ou seja: um organismo (esporófito) produz esporos, e estes esporos se desenvolvem se tornando outro organismo (gametófito), que é capaz de produzir gametas; dois gametas então se unem para se desenvolverem em outro organismo, um novo esporófito, reiniciando o ciclo. O gametófito está bem visível tanto nas Briófitas quanto nas Pteridófitas, apesar de ser permanente nas primeiras e apenas temporário nas segundas. Mesmo sem ser evidente, portanto, o gametófito tem que existir também em Gimnospermas e Angiospermas, em algum lugar. Mas onde? Notamos que há um aumento do esporófito e uma diminuição do gametófito quando comparamos Briófitas e Pteridófitas; como certamente em Gimnospermas o esporófito aumentou ainda mais, podemos levantar a hipótese de que o gametófito diminuiu ainda mais. Vamos tentar confirmar isto, então.

Ainda há muita discussão sobre a origem exata destes grandes grupos de plantas atuais, e muitos detalhes permanecem desconhecidos. Mas algumas coisas se sabem com razoável certeza, graças aos achados fósseis e às análises moleculares (comparações de DNA, RNA e proteínas entre as plantas). As Gimnospermas surgiram a partir de algum parente próximo das Pteridófitas atuais e, mais tarde, as Angiospermas se modificaram de um grupo de Gimnospermas antigo. Estes dois grupos têm mais em comum do que apenas um esporófito muito desenvolvido – a parte “sperma” dos dois nomes significa “semente”, ou seja, uma das características que diferenciaram as primeiras Gimnospermas (e que se mantiveram nas Angiospermas) foi a semente, responsável por germinar e originar um novo esporófito. Ora, um esporófito não pode gerar um outro esporófito diretamente sem haver uma geração gametofítica intermediária – e a semente surge dentro do esporófito –, então o gametófito tem que estar também dentro do esporófito.

E, realmente, é isso o que acontece. Até antes das Gimnospermas aparecerem, os gametófitos de todas as plantas surgiam a partir de um esporo que abandonava o esporófito e ia germinar fora dele para originar o gametófito, assim como ainda acontece com as Briófitas e Pteridófitas atuais. A grande inovação das Gimnospermas – a semente – explica-se porque, por algum motivo, os esporos delas passaram a se desenvolver dentro do próprio esporófito, no esporângio que as originou. Naturalmente, o gametófito nascerá e crescerá dentro do esporófito. Como elas são plantas heterospóricas, haverá gametófitos masculinos e femininos, os quais produzirão gametas. Ao se encontrarem, os dois gametas se unirão e darão origem a uma semente. Mas, diferentemente do que acontece com as suas primas mais velhas, as Gimnospermas e Angiospermas não têm disponível um meio aquoso que sirva de caminho para que os anterozoides produzidos pelo gametófito masculino se desloquem até o gametófito feminino a fim de se unirem às oosferas. A estratégia que elas desenvolveram, então, foi fazer com que o gametófito masculino inteiro se deslocasse até o feminino (isto mesmo, mesmo sem ter pernas!) e entregasse os anterozoides diretamente, para fecundarem as oosferas.

O gametófito masculino é o famoso grão de pólen. Vários grãos de pólen juntos formam aquele “pozinho” amarelinho que sai dos estróbilos (ex.: pinhas dos pinheiros) masculinos das Gimnospermas e que também está presente nas flores das Angiospermas. O gametófito feminino fica mais escondido, dentro dos estróbilos femininos ou dos ovários das flores, guardando as oosferas. Para chegar ao gametófito feminino, o pólen das Gimnospermas conta com a força do vento para levá-lo e, se tiver sorte, cair dentro de um estróbilo feminino. Ele se fixa próximo à micrópila, onde termina seu desenvolvimento e libera os anterozoides para que nadem até as oosferas. Este vídeo é uma animação (narrada em inglês) que mostra rapidamente como ocorre a reprodução das gimnospermas. Aqui, um outro vídeo, dublado em português.

Nas Angiospermas ocorre mais ou menos a mesma coisa, mas com algumas diferenças importantes. Pra começar, elas não precisam contar com o vento para levar o pólen até o gametófito feminino. Elas desenvolveram uma estrutura muito conhecida nossa, a flor, que fornece alimento, cores e perfumes para que insetos e pássaros venham até ela e façam este serviço inconsciente, carregando pólen de flor em flor. Por isso, aliás, existem tantas Angiospermas diferentes, com tantas flores diferentes. Cada uma evoluiu suas características para atrair melhor algum animal que a ajudasse a se reproduzir. Esta estratégia, no entanto, tornou um pouco mais difícil o encontro dos dois gametófitos. Na figura 5 vemos um esquema generalizado de Angiospermas.

Agora os gametófitos femininos ficam protegidos dentro de uma estrutura a qual chamamos ovário. O pólen deixado lá em cima precisa então desenvolver muito o seu tubo polínico para que este chegue até lá embaixo, onde os óvulos estão, e libere os anterozoides. E é aí que acontece o que foi observado no trabalho citado no início do texto, da equipe de Cheung. A figura 6 é uma imagem que eles conseguiram com seu trabalho. Note como, quando comparado ao esquema da figura 5, o ovário da Arabidopsis é bem maior, indo até próximo do estigma.

Seja nas Gimnospermas ou Angiospermas, ao encontrar a oosfera, o anterozoide a fecunda e esta união dá origem ao esporófito. Ele, no entanto, não se desenvolverá completamente, por enquanto. Com a fecundação, uma série de transformações químicas acontecem, fazendo com que toda a estrutura do óvulo se transforme no que chamamos de semente. Nas Angiospermas, todo o ovário se transforma no fruto. Quando a semente estiver madura, ela poderá continuar seu desenvolvimento e germinar, se as condições permitirem. Mas o mais importante é que, até lá, o esporófito estará extremamente protegido dentro da semente, aumentando sua probabilidade de sobrevivência; o que já não acontece com as Briófitas e Pteridófitas, cujos gametófitos germinam diretamente dos esporos que caem no chão, sem a existência de uma semente para protegê-los durante o início do desenvolvimento.

Vemos, então, que não apenas o aumento de tamanho do esporófito durante a evolução das plantas trouxe vantagens a elas. A diminuição dos gametófitos também foi imprescindível. Se o gametófito masculino não tivesse diminuído tanto, como ele poderia ser carregado pelo vento nas Gimnospermas ou levado grudado no corpo de pequenos insetos, nas Angiospermas? Graças ao gametófito feminino se desenvolver dentro do corpo da mãe é que foi possível que ele e toda a estrutura que o envolve se transformasse em semente, depois de fertilizado pelos gametas do grão de pólen. Claro que toda essa parafernália exigiu que aparecessem, juntos, mecanismos para permitir que o grão de pólen consiga levar os anterozoides até o óvulo. Nas Angiospermas, especialmente, os diversos artifícios utilizados pelas flores para atrair polinizadores tiveram de evoluir – o que, no final das contas, certamente compensou o “esforço”, pois elas são, de longe, as plantas mais numerosas e diversificadas do planeta.


Referências:

Biologia Vegetal, de Peter H. Raven, Ray F. Evert e Susan E. Eichhorn. Guanabara Koogan, 6ª edição, 2001.

The pollen tube journey in the pistil and imaging the in vivo process by two-photon microscopy, de Alice Y. Cheung, Leonor C. Boavida, Mini Aggarwal, Hen-Ming Wu e José A. Feijó. Journal of Experimental Botany, Vol. 61, No. 7, Abril de 2010.


Figuras:

1 e 3: retiradas de ec.europa.eu. Há outras imagens muito interessantes de Arabidopsis, lá.

2, 5 e 6: retiradas de The pollen tube journey in the pistil and imaging the in vivo process by two-photon microscopy, de Alice Y. Cheung, Leonor C. Boavida, Mini Aggarwal, Hen-Ming Wu e José A. Feijó. Journal of Experimental Botany, Vol. 61, No. 7, Abril de 2010.

4: retirada de www.videoscienza.it.

Jogo Doença de Chagas

Vejam que inbteressante esse jogo produzido por um ex-bolsista PIBID em um estágio na FioCruz do Rio.

http://www.invivo.fiocruz.br/chagas/quadrinhos.html

Simples e interativo, útil e belo! Parabéns Samuel! e a toda equipe.

Influência de substâncias no comportamento de abelhas


Todos nós conhecemos um pouco ou já ouvimos falar sobre a interessante organização social entre as abelhas, que por ser tão complexa, até hoje muitos cientistas procuram compreender os vários processos que determinam o comportamento desta sociedade, como por exemplo, qual o tipo de substância presente na geléia real que confere a realeza. E por ser assim tão instigante é que temos tanta curiosidade em conhecer cada avanço no entendimento do comportamento das abelhas sociais.

Em um recente estudo, cientistas têm contribuído para demonstrar a influência de duas substâncias: a proteína vitelogenina e o hormônio juvenil, no comportamento de forrageamento.

As abelhas melíferas vivem em colméias e são organizadas em uma sociedade onde há divisão de trabalho, elas são chamadas de “eusociais” ou “verdadeiramente sociais”. Diferentemente da rainha elas são inférteis e por isso suas funções são cuidar do ninho, da rainha e das irmãs. O forrageamento é um tipo de função que elas desempenham, e isto inclui coletar água, pólen e néctar. A escolha entre coletar néctar (fonte de carboidrato) ou pólen (fonte de proteína) esta correlacionada com variações no comportamento e fisiologia das abelhas.

A atividade das abelhas operárias está relacionada com a idade, no começo consiste em trazer mel das celas de armazenamento para a rainha, zangão e larvas. Depois ela começa a produzir cera, que é exsudada do abdome, passada para frente pelas patas traseiras, mastigada prolongadamente e usada para aumentar a colméia. Essas “abelhas caseiras” também removem companheiras mortas ou doentes, limpam as celas para serem reutilizadas, e servem como guardas na entrada da colméia. Em uma terceira fase é que elas saem para forragear, o inicio deste comportamento esta associado com o desenvolvimento do ovário e com o (JH), ou hormônio juvenil.

Para testar o efeito da vitelogenina , foi utilizado um RNAi ou interferência, que inibe a expressão desta proteína em duas colônias de abelhas, com genótipos para diferentes comportamentos de forrageamento e fisiologia reprodutiva. Com isso eles concluíram que a vitelogenina só afeta a escolha entre coletar néctar ou polén, se as abelhas possuírem sensibilidade à níveis de vitelogenina. Além disso, a diferença da idade de inicio de forrageamento também é influenciado por uma relação mutualística entre esta proteína e o hormônio juvenil.

Desta forma há uma relação de integração da fisiologia do ciclo reprodutivo de fêmeas com o comportamento alimentar. A coleta de proteína (pólen), por exemplo, para uma abelha social, a Lasioglossum zephyrum, é essencial para o seu processo reprodutivo.

A atividade do gene para estas substâncias é essencial para regulação social do comportamento de forrageamento de abelhas, conferindo a elas adaptações especiais para a sobrevivência do grupo. No entanto os fatores que regulam a sensibilidade das abelhas à vitelogenina é desconhecido, e novos estudos em genômica funcional são necessários. Este estudo sugere que o comportamento de forrageamento é dependente da sensibilidade dos indivíduos a um sinal interno, mostrando como as diferenças genéticas entre as duas colônias pode contribuir para produção de características adaptativas, que são importantes para o sucesso ecológico destas sociedades animais.

Referência bibliográfica

IHLE K. E.; PAGE R. E. Jr.; FREDERICK K.; FONDRK M. K.; AMDAM G. V. Genotype effect on regulation of behaviour by vitellogenin supports reproductive origin of honeybee foraging bias. Animal behaviour (2010) 79-1001-1006.

domingo, 9 de maio de 2010

Nós e Outros Animais

Nem sempre lembramos que nós humanos fazemos parte do mundo animal. O que nos faz diferentes do resto dos outros animais? Essa é uma questão antiga que tentamos solucionar antes mesmo da Teoria da Evolução, postulada por Darwin.

No período do pós-guerra fomos classificados como "ferramenteiros" e isso respondia à questão, mas em seguida, na década de 60, foram feitos estudos que observaram esse aspecto nas sociedades de chimpanzés. Os chimpanzés usavam varas que serviam para apanhar cupins (alimento apreciado por eles) como se estivessem pescando. A definição Ferramenteiro já não nos diferenciava. Isso apontou, então, o fato do homem se organizar para caçar, o que também ocorre em diversas sociedades de animais carnívoros.

Tomasello é um dos pesquisadores que investiga os aspectos que nos diferenciam dos outros animais. Seu trabalho explora os aspectos sócio-cognitivos que formam a base da sociabilidade humana. Ele é co-diretor do Instituto Max Planck em Antropologia Evolutiva, e chefe do Departamento de Desenvolvimento e Psicologia Comparada na Alemanha. Nas últimas duas décadas, Tomasello e seus colaboradores desenvolveram pesquisas que identificaram os processos cognitivos e culturais que distinguem o Homem dos outros animais através da comparação com seus parentes vivos mais próximos, os chimpanzés. Os pesquisadores usaram conceitos da Antropologia, ciência que estuda o homem e sua totalidade, e conceitos de Comportamento animal, uma das ciências dentro do vasto leque das Ciências Biológicas. Tomasello observou no comportamento humano alguns parâmetros que poderiam ser a chave para a diferenciação dos outros animais como por exemplo o comportamento de cooperação, que foi observado em bebês humanos e chimpanzés jovens.

A cooperação é um fenômeno estudado por Biólogos, Psicólogos, Antropólogos, Filósofos, etc. A Biologia Evolutiva interpreta o fenômeno da cooperação como um comportamento em que um indivíduo interage de forma ativa gerando benefício a outro(s) individuo(s). A cooperação ocorre em diversos sistemas biológicos, podendo ser vista do nível molecular aos organismos complexos.

Através da análise do comportamento de crianças humanas, Tomasello afirma que nossa espécie é fundamentalmente cooperativa. O experimento era feito com dois indivíduos e consistia em colocar longe do primeiro sujeito um objeto e ver se o segundo sujeito entregava-o ao sujeito um. Com crianças o objeto escolhido foi um lápis. No experimento, essas crianças eram colocadas em uma sala para escrever uma carta e após certo tempo era retirado o lápis de seu alcance, então uma segunda criança era observada diante daquela situação. As opções era colaborar com o outro ou ignorar. No caso dos chimpanzés, ao invés do lápis, o objeto utilizado era uma vareta, ao qual o animal tem mais apreço, e da mesma forma era retirado de seu alcance e observava o comportamento do outro chimpanzé. A grande maioria das crianças pegava o lápis e o entregava à outra criança, já no caso dos chimpanzés a situação era outra: ou o segundo animal ignorava o primeiro ou acontecia brigas acirradas por causa da vareta.
Yamamoto, outro cientista que investiga o fenômeno da cooperação  demonstra que os chimpanzés são mais aptos a cooperarem entre si quando recebem pedido de ajuda. Quando o indivíduo que necessitava de ajuda se comunicava, fazendo o pedido por socorro, a cooperação chegou a níveis de 75%. Em indivíduos aparentados essa cooperação era de aproximadamente 85% dos casos. Em contraste com os seres humanos, sugere que os chimpanzés raramente realizam atos  voluntário. A falta de cooperação nos Chimpanzés pode ser explicada pelo ambiente competitivo em que vivem, sendo que desde cedo eles estão habituados a procurar comida e competir com outros caso estejam ameaçados de alguma forma.

Michael Tomasello explora os aspectos sócio-cognitivos que formam a base da sociabilidade do ser humano.  Através de seus estudos, a mensagem chave é que os seres humanos são fundamentalmente cooperativos. Esta atitude cooperativa poderá se corromper durante o desenvolvimento do indivíduo na sociedade humana. Mas o ponto central para Tomasello é a presença deste instinto cooperativo, sendo esta característica que nos diferencia dos nossos parentes vivos mais primitivos.

O fato é que chegamos a essa posição através dos mesmos processos evolutivos que atuam nos seres vivos. No entanto possuímos o que não foi ainda encontrado em nenhum outro animal: a evolução cultural que fornece uma retroalimentação positiva constante. A capacidade de pensamento conceitual, a comunicação por linguagem simbólica, e principalmente a capacidade de manipular o ambiente em que vivemos estão dentro dos conceitos de cultura, sendo ela um diferencial entre nós e outros animais. Cultura é o que nos diferencia em um conjunto de muitas semelhanças com os outros animais.
Mas, será mesmo que sempre estamos conscientes de que fazemos parte do mundo animal? O que lhe passa na cabeça quando avista uma placa dizendo que é proibido animais naquele estabelecimento?


Referências:
Fischer J (2010) Why We Conform. PLoS Biol 8(2): e1000277. doi:10.1371/journal.pbio

Warneken F, Hare B, Melis AP, Hanus D, Tomasello M (2007) Spontaneous altruism by chimpanzees and young children. PLoS Biol 5(7): e184.

Kappeler PM, van Schaik CP (2006) Cooperation in primates and humans:
Mechanisms and evolution. Berlin, Heidelberg: Springer-Verlag

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Como o sol mandar

Sabe-se, atualmente que as variações ambientais são quem modulam o comportamento de vários animais, se não de todos (isso porque não podemos afirmar nada em Biologia). O artigo publicado em janeiro deste ano na Trends in Endocronology and Metabolism, em uma revisão chamada Função do Hormônio Inibidor da Gonadotropina em mamíferos (Gonadotropin inhibitory hormone function in mammals, nome original), destaca como um hormônio pode modular as funções reprodutivas dos animais e de ingestão de alimentos. ste hormônio foi primeiramente descritos em aves e agora uma série de experimentos comprovaram a existência deles em vários grupos de mamíferos. No entanto, a função desse hormônio ainda não é nada elucidada. Sabe-se que pela suas ligações no sistema nervoso, ele modula diretamente a liberação dos hormônios gonadotrópicos, ou seja, aqueles hormônios que atual sobre as gônodas. Estes hormônios que atuam sobre as gõnadas que são os ovários e os testículos, são o FSH, chamado Hôrmonio Folículo Estimulante e LH, Hôrmonio Luteinizante. Eles atuam na maturação dos gametas (células reprodutivas) e no ciclo ovariano, ou seja, são eles que determinam a época em que os organismos devem reproduzir e que mantém o embrião dentro do útero pelo controle de outros hormônios o estrógeno e progesterona. Sendo assim, existe uma castaca de controle, são hormônios que controlam hormônios e estes controlam o funcionamento do corpo de várias maneiras.

Esses ciclos reprodutivos são controlados por fatores externos. Pensando em ambientes naturais, o que leva os pássaros a saberem que os invernos são ruins para a reprodução e a primavera é uma boa época para reprodução? O que torna uma estação mais favorável do que a outra para isto?

Através dessas peguntas e pesquisas nas mais diversas áreas, não somente da Biologia, pesquisadores chegaram a conclusão o fotoperíodo (período de exposição à luz),a temperatura e até mesmo a quantidade de chuvas, podem ser determinates para que as espécies entrem no período reprodutivo. Mas o que acontece dentro do corpo que faz com que os animais saibam disso?


O corpo funciona bem, porque existem uma série de mecanismos de controle que ao interagirem com o ambiente mudulam o funcionamento do corpo e os mais potentes reguladores dessas atividades são os hormônios. Como foi dito anteriormente existem hormônios específicos para o controle das funções reprodutivas, mas agora, acredita-se que este hormônio inibidor dos hormônios gonadotróficos (FSH e LH) é quem recebe os estimulos externos e controla a secreção desses hormônios, e não somente eles mesmos por mecanismos intrínsecos de retroalimentação (feedback) eram quem controlavam esse processo.

Sendo assim, o nosso organismo é algo extremante dependente das condições do ambiente, por isso é tão importante cuidar do ambiente à nossa volta, para que possamos funcioanar da melhor maneira possível.

terça-feira, 4 de maio de 2010

CONHECENDO O GENOMA

Lendo o artigo ¨BIOLOGIA E ÉTICA: UM ESTUDO SOBRE A COMPREENSÃO E ATITUDES DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO FRENTE AO TEMA GENOMA/DNA¨ pude perceber a importância da investigação como uma alternativa para o trabalho do professor dentro de sala de aula, pois é possível melhorar a qualidade das aulas, formando alunos críticos e atuantes, capazes de atitudes bem pensadas em sua vida pessoal e profissional.

De acordo com os autores, a prática pedagógica de qualidade se baseia no currículo escolar e, principalmente, na formação inicial (e permanente) dos professores, contemplando aspectos como a ruptura de visões simplistas sobre o Ensino de Ciências. Para isso, são requisitos necessários, o conhecimento da matéria a ser ensinada, que o professor mude sua visão sobre o que é ensinar Ciência (adquirida quando era aluno), uma sólida fundamentação teórica para analisar criticamente o ensino tradicional, ter competência para preparar atividades, orientar os trabalhos dos alunos, na avaliação e na atuação como professor-pesquisador.

Podemos observar hoje como é fácil e rápida a obtenção de informação nos meios de comunicação, mas nem sempre o aluno tem uma orientação adequada para interpretar e usar essas informações para construir um conhecimento escolar.

Então para estimular o interesse e a curiosidade deles, os autores fizeram um conjunto de atividades intitulado Projeto Genoma.

Sabemos que a ciência envolve vários conteúdos conceituais pertinentes do nosso cotidiano e está em constante mudança e nem sempre os alunos têm conhecimento e condições de discutir e compreender as novidades científicas.

Assim, o professor não pode oferecer aos alunos conhecimentos definitivos. Alem disso, deve desfazer a concepção elitista da ciência, de que os cientistas são gênios e que o conhecimento científico é inatingível.

Devemos então esclarecer os alunos, capacitá-los a entender, discutir eticamente e opinar sobre aos rumos da ciência. Pois uma pessoa esclarecida tem capacidade de atuar na sociedade.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1999) sugerem que se trabalhem temas sociais de modo interdisciplinar, por meio dos temas transversais (Ética, Meio ambiente e Orientação Sexual), desde o Ensino Fundamental. A partir daí eles poderão contribuir de alguma de alguma forma, desde que sejam contextualizados, para formar o cidadão. Além de ensinar o conteúdo, a escola deve também buscar meios de informar e formar, discutindo as questões éticas permeadas pelos conteúdos do Ensino de Ciência.

É importante contextualizar os conteúdos tratados no Ensino Médio e oferecer aos alunos uma visão atual do mundo, para que conheçam as tecnologias avançadas e as teorias que as sustentam. Mas para isso é preciso investir na formação dos professores, capacitando-os a desenvolverem práticas pedagógicas interdisciplinares de qualidade.

Pois de acordo com a autora, a prática pedagógica é fundamentada em dois referenciais teóricos: a função social do ensino (que cidadão quero formar) e saber como se aprende (psicogênese). Com base nestes referenciais são planejadas a aplicação, avaliação e a reorganização da seqüência de atividades, sempre considerando o contexto educacional.

Vemos hoje, que os professores encontram bastante dificuldade em não produzir o modelo de ensino aprendizagem que viveram. Pois devem saber estimular no aluno a autonomia, o diálogo, o debate de idéias, o trabalho colaborativo e o espírito crítico. Deve sistematizar as observações e pensar criticamente sobre elas.

Dentre as atividades proposta pela autora, uma em especial foi à projeção do filme ¨GATTACA¨, pois também trabalhamos na escola na qual atuamos. O filme projetava uma base de pesquisa futurista em que as pessoas geradas em laboratórios, por meio de manipulações genéticas, tinham suas identidades genéticas classificadas como válidas. Logo, o ser inferior foi gerado pelas vias normais (o ato sexual) e carregava em seu DNA as características positivas e negativas determinadas, ao acaso.

Através dele podemos mostrar a discriminação genética, bastante evidente no filme e que poderá, ser uma realidade nova e dura num futuro próximo. Também os limites entre ciência-religião e ciência–ética, já que o personagem principal no filme era considerado um ser inferior por aqueles gerados através de manipulações genéticas. Além dos conceitos sobre DNA vistos em sala de aula. E isso é bom para esclarecer a eles, caso no futuro, sejam capazes de atuar criticamente na vida cotidiana ou na busca de soluções para problemas sociais.

Assim, de acordo com a autora, é possível levá-los a trabalharem sob hipóteses alternativas e ou novas proposições teóricas a partir de debates e tendo acesso às novidades da Ciência. Podemos todos dar um salto qualitativo em nossas práticas docentes se utilizarmos tais ferramentas. Ensinar Biologia sob uma abordagem curricular conceitual, procedimental e atitudinal é o caminho para a aprendizagem significativa dos conteúdos. Os alunos participaram com muito interesse, questionando e pesquisando para re-elaborar seus conhecimentos.

Devemos assim, como futuros professores, sabermos articular os conteúdos científicos obrigatórios nos currículos, selecionar atividades diversificadas para motivar os alunos, considerando como eles vêem o mundo. Assim, teremos facilidade para perceber as dificuldades e os problemas que aparecem durante o processo de aprendizagem e isso nos tornará professores cada vez mais responsáveis, capazes de romper o velho paradigma de ensino, por transmissão e recepção.


Referência bibliográfica

- ALVES, S. B. F. & CALDEIRA, A. M. A.; Biologia e Ética: um estudo sobre a compreensão e atitudes de alunos do ensino médio frente ao tema genoma/DNA, 2008 – fae.ufmg.br
Disponível em: http://www.fae.ufmg.br

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Bioindicadores de condições ambientais

A Mata Atlântica é considerada como um dos mais ricos conjuntos de ecossistemas em termos de diversidade biológica do Planeta (Myers et al. 2000). No Brasil a fragmentação é acentuada e seus efeitos podem inviabilizar sua preservação, por alterar as características primárias e modificar a composição e a riqueza de espécies na comunidade (Schoereder et al. 2oo4).

O processo global de fragmentação de habitats é, possivelmente, a mais profunda alteração causada pelo homem ao ambiente. Muitos habitats naturais que eram contínuos foram transformados em paisagens semelhantes a um mosaico, compostos por manchas isoladas de habitat original. Esta fragmentação florestal tem sido relacionada à maior duração de surtos de pragas florestais, possivelmente devido às mudanças nas alterações entre estas e seus inimigos naturais, assim como a uma maior redução no número de espécies de parasitóides do que de seus hospedeiros fitófagos, e as alterações na composição de polinizadores e uma qualidade da polinização.

Uma forma de avaliar o grau de alteração ou fragmentação de um habitat é mediante a utilização de um grupo de organismos considerados como bioindicadores.

Os insetos são de extrema importância para o ecossistema, por serem responsáveis pela polinização das plantas, predadores, alguns estudos analisam, a importância de besouros coprófagos como agentes da reciclagem de nitrogênio, aeração do solo e bioindicadores de qualidade de habitat. Os insetos são adequados para uso em estudos de avaliações de impacto ambiental e de efeitos de fragmentação florestal, pois além de serem o grupo de animais mais numeroso do globo terrestre, têm elevadas densidades populacionais, apresentam grande diversidade, em termos de espécies e de habitats e grande variedade de habilidades para dispersão e seleção de hospedeiros e de respostas à qualidade e quantidade de recursos disponíveis, além de sua dinâmica populacional ser altamente influenciada pela heterogeneidade dentro de um mesmo habitat.

O estudo da fauna Coleópteros de solo, envolvendo famílias ou espécies abundantes, tem sido alvo de muitos pesquisadores, como indicadores de condições ambientais. A ordem Coleoptera abrange o maior número de espécies conhecidas, ocupando grande quantidade de habitats, ou seja, no solo, nas plantas, nas águas de rios, riachos e praias marinhas, podendo ter hábitos detritívoros, herbívoros, fungívoros ou de predação. Compreende os insetos denominados vulgarmente de besouros. Os besouros se distinguem facilmente pela presença de élitros, que possuem consistência coriácea ou córnea, protegendo as asas posteriores que se dobram quando em repouso.

Num levantamento da fauna de Coleoptera, na Mata do Mergulhão (remanescente de Mata Atlântica de baixada), indicaram abundância de coleópteros nos meses de temperaturas mais elevadas.

Do total de espécies capturadas, 95,3% pertencem às quatro famílias mais numerosas:

  • Nitidulidae

    • Curculionidae

      • Scarabaeidae

      • Staphylinidae


      Que podem ser consideradas como abundantes em todos os períodos de coleta nas armadilhas.

      Os dados do levantamento podem ser utilizados como subsídios de novos estudos, enriquecimento das informações biológicas e avaliar o nível de perturbação neste ecossistema, que é de extrema importância para desenvolver programas de conservação, proteção, manejo e recuperação de sua biodiversidade.

      A AGRICULTURA PODE AFETAR A MIGRAÇÃO DE AVES?

      Sabemos que as atividades humanas (antrópicas) podem gerar grandes impactos sobre a biodiversidade. A agricultura, por exemplo, pode afetar negativamente a vida de muitas espécies. Porém, pouco se sabe sobre o efeito do cultivo da terra sobre a migração de aves.

      Pássaros migratórios dividem sua jornada em pequenas paradas alternando entre curtos períodos de vôo e longos períodos de parada. A mortalidade pode ser alta durante a migração e as condições experimentadas durante a longa viagem podem afetar o sucesso reprodutivo. Alguns pássaros utilizam áreas agricultáveis durante a migração. Algumas espécies (ex.: gansos) aproveitam o excesso de comida nas fazendas, mas algumas espécies migrantes podem sofrer com a qualidade subótima da comida e com a maior taxa de predação, fazendo com que algumas evitem essas áreas.

      Lindstrom e colaboradores (2010) estudaram a ecologia da espécie Pluvialis apricaria, encontrada em áreas aradas da Suécia entre 2003 e 2007. A espécie em estudo é uma ave pernalta, de tamanho médio, que se reproduz na Europa em vários tipos de gramado e brejos, com maior reprodução nas montanhas brejosas e na tundra Ártica europeia. Essas aves podem parar em fazendas durante a migração.

      Foram analisadas as variáveis ecológicas relacionadas à qualidade do local da parada (tempo de permanência no local, deposição de gordura e muda) para avaliar como essas aves utilizam esse local. De acordo com outros estudos, quanto maior o tempo de permanência, deposição de gordura (armazenamento de “combustível” para a viagem) e se houver muda (troca das penas) melhor é o local da parada.

      Essa espécie migra a médias distâncias tanto para campos quanto para áreas de agricultura no inverno. A duração da permanência é relacionada à combinação de fatores como tempo, distância da próxima parada, estratégia geral de migração, disponibilidade de alimento (“combustível”). Para aves pernaltas de tamanho similares (cerca de 200g), a “parada” dura de 1-3% do total. Essa espécie deve adicionar 15% de “combustível” na parada para essa ser favorável.

      Os resultados indicaram que essas aves permanecem no local durante um tempo considerável e se “reabastecem” de alimento nessas áreas. Isso não significa necessariamente que o ambiente de agricultura é bom para essa espécie, mas foi considerado moderado.

      Para animais que migravam para áreas que foram muito modificadas pela agricultura, a parada pode ser perigosa. Eles devem procurar outras áreas para parar, as quais nem sempre estão disponíveis, o que pode prejudicar a migração. Áreas de agricultura podem fornecer mais alimentos, mas podem deixar o animal mais susceptível a predadores (mais visíveis) e a produtos químicos (a longo prazo), os quais não foram analisados no trabalho.


      REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

      LINDSTROM, A.; DANHARDT, J. GREEN, M.; KLAASSEN, R. H. G.; OLSSON, P. Can intensively farmed arable land be favourable for birds during migration? The case of the Eurasian golden plover Pluvialis apricaria. J. Avian Biol. 41: 154_162, 2010.

      domingo, 2 de maio de 2010

      HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO ENSINO DE CIÊNCIAS

      Muitos são os métodos usados para o ensino de ciências nas escolas, mas as histórias em qudrinhos (HQ) estão ocupando um espaço de total relevância para tal ensino, despertando e aguçando o interesse dos alunos, uma vez que são histórias chamativas e interessantes, e assim tornam o aprendizado mais agradável.

      É preciso que se inove a cada dia a mediação de conhecimentos para que o aluno se torne participativo e interessado em receber os conhecimentos de uma maneira agradável e instigativa, de modo que tais conhecimentos sejam mais detalhados e de vocabulário acessível.

      Segundo trabalhos de Cabello e colaboradores (2010), em se tratando de saúde geralmente as crianças e os adolescentes já trazem para a escola conceitos errôneos aprendidos no entorno familiar e na vizinhança. Existem mitos e estigmas que levam a ter medo da hanseníase, criando assim um preconceito muito forte contra os doentes. Frente a este quadro, a educação e a divulgação científica tornam-se uma ferramenta de maior importância, pois através delas pode-se combater esses medos, pode-se mostrar que a doença tem cura quando diagnosticada precocemente e tratada corretamente.

      Cabello e colaboradores (2010) ainda ressaltam que existem diversos materiais educativos, de campanhas e divulgação falando de hanseníase; neles, podem ser encontrados conceitos básicos da sintomatologia, diagnóstico, tratamento e cura da doença, mas pouco se fala da imunologia. É nesse sentido que a elaboração, aplicação e avaliação de uma história infantil, trabalhando conceitos encaixados num contexto o mais próximo possível ao real da hanseníase, poderá sem dúvida contribuir para um melhor conhecimento e divulgação da doença, além de instruir as crianças e os adolescentes com conceitos simples de imunologia.


      Assim, devido ao fato de que o estudo de doenças em geral é às vezes um tanto complexo devido a termos científicos, o que torna difícil a compreensão deixando o aluno apático e sem interesse em participar da aula, tornando-se somente um recebedor de teorias; métodos inovadores e que sejam de interesse dos alunos como as histórias em quadrinhos, são uma grande e importantíssima ferramenta que os professores não só podem, como também devem utilizar, para que a construção do conhecimento pelos alunos seja cada vez mais interessante, facilitando assim a assimilação do conteúdo pelos próprios.

      OBS: iniciativas deste tipo já vêm sendo realizadas com muito sucesso, sendo que uma das mais conhecidas no Brasil é o GIBIO, um gibi criado pelos alunos do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Este é um trabalho que vale muito à pena ser conferido. Abaixo segue um link do site da Banca do GIBIO, onde os gibis podem ser acessados virtualmente. Divirtam-se:

      http://www.ufscar.br/fotografia/gibiobanca.php


      Referências Bibliográficas:

      - CABELLO, K. SA., DE LA ROCQUE, L., SOUSA, I. C. F. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias v. 9, Nº 1, pp. 225-241, 2010.