Sabemos que as atividades humanas (antrópicas) podem gerar grandes impactos sobre a biodiversidade. A agricultura, por exemplo, pode afetar negativamente a vida de muitas espécies. Porém, pouco se sabe sobre o efeito do cultivo da terra sobre a migração de aves.
Pássaros migratórios dividem sua jornada em pequenas paradas alternando entre curtos períodos de vôo e longos períodos de parada. A mortalidade pode ser alta durante a migração e as condições experimentadas durante a longa viagem podem afetar o sucesso reprodutivo. Alguns pássaros utilizam áreas agricultáveis durante a migração. Algumas espécies (ex.: gansos) aproveitam o excesso de comida nas fazendas, mas algumas espécies migrantes podem sofrer com a qualidade subótima da comida e com a maior taxa de predação, fazendo com que algumas evitem essas áreas.
Lindstrom e colaboradores (2010) estudaram a ecologia da espécie Pluvialis apricaria, encontrada em áreas aradas da Suécia entre 2003 e 2007. A espécie em estudo é uma ave pernalta, de tamanho médio, que se reproduz na Europa em vários tipos de gramado e brejos, com maior reprodução nas montanhas brejosas e na tundra Ártica europeia. Essas aves podem parar em fazendas durante a migração.
Foram analisadas as variáveis ecológicas relacionadas à qualidade do local da parada (tempo de permanência no local, deposição de gordura e muda) para avaliar como essas aves utilizam esse local. De acordo com outros estudos, quanto maior o tempo de permanência, deposição de gordura (armazenamento de “combustível” para a viagem) e se houver muda (troca das penas) melhor é o local da parada.
Essa espécie migra a médias distâncias tanto para campos quanto para áreas de agricultura no inverno. A duração da permanência é relacionada à combinação de fatores como tempo, distância da próxima parada, estratégia geral de migração, disponibilidade de alimento (“combustível”). Para aves pernaltas de tamanho similares (cerca de 200g), a “parada” dura de 1-3% do total. Essa espécie deve adicionar 15% de “combustível” na parada para essa ser favorável.
Os resultados indicaram que essas aves permanecem no local durante um tempo considerável e se “reabastecem” de alimento nessas áreas. Isso não significa necessariamente que o ambiente de agricultura é bom para essa espécie, mas foi considerado moderado.
Para animais que migravam para áreas que foram muito modificadas pela agricultura, a parada pode ser perigosa. Eles devem procurar outras áreas para parar, as quais nem sempre estão disponíveis, o que pode prejudicar a migração. Áreas de agricultura podem fornecer mais alimentos, mas podem deixar o animal mais susceptível a predadores (mais visíveis) e a produtos químicos (a longo prazo), os quais não foram analisados no trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
LINDSTROM, A.; DANHARDT, J. GREEN, M.; KLAASSEN, R. H. G.; OLSSON, P. Can intensively farmed arable land be favourable for birds during migration? The case of the Eurasian golden plover Pluvialis apricaria. J. Avian Biol. 41: 154_162, 2010.
Seria legal que algum estudo avaliasse se há alterações no tamanho da população no decorrer dos anos, para se deduzir se estas "paradas de risco" realmente estão afetando os pássaros, e de que forma.
ResponderExcluirAcho que os autores deveriam fazer agora um estudo sobre uma possível contaminação dessas aves por agrotóxicos, afinal parando em fazendas e comendo restos de cultura elas podem estar ingerindo um monte de veneno e talvez isso pode ser encontrado nas aves mais velhas que já migraram mais vezes.
ResponderExcluirNossa agricultura é realmente muito errada... esquecemos que o ambiente não é só nosso mas que outros organismos também necessitam dele. Aí tiramos tudo, criamos uma monocultura sem qualquer base ecológica e reclamamos das pragas que nos aparecem...
Bem, infelizmente não posso contrubuir com um comentário da base da pesquisa. O texto foi escrito de uma maneira legal, mas, eu particularmente, não gosto de associações tão fortes a termos comparativos, como o combustível utilizado. Na primeira vez que vc usou o termo, foi legal, porque esclareceu o papel da alimentação para esses animais, no entanto, após vc repetí-lo, parece que as pessoas que o leram, não prestaram atenção, ou não foram capazes de entender da primeira vez. Gostaria que as pessoas se manifestassem a respeito dessa opinião, afinal, posso estar com um pensamento errôneo e talvez dando uma opinião de construção do texto errada. No mais, concordo plenamente com o que foi colocado pela Ester e pelo Érico, Talvez estudos a longo prazo ajudem melhor a conhecer a "nova história de vida" desse grupo de aves migratórias.
ResponderExcluirBom, acredito também que serão necessários novos estudos com os enfoques propostos pelo Érico e pela Ester.
ResponderExcluirQuanto à utilização do termo "combustível", acredito que não exagerei na utilização desse termo, até porque só repeti uma vez e ainda com aspas. Também não gosto de exageros!