Todos os animais necessitam da alimentação para adquirirem energia e nutrientes essenciais para o funcionamento de seu organismo. Mas qual o melhor lugar para procurar o alimento? Que alimento possui maior quantidade de energia? Essas respostas podem variar dependendo da espécie, de seus hábitos alimentares e das condições do ambiente.
Um predador é qualquer organismo (não necessariamente um animal) que se alimenta de todo ou parte de outro organismo (presa) que estava vivo quando o predador o atacou pela primeira vez. Para animais carnívoros, além da procura, deve haver a captura e manuseio da presa. Se algum organismo se alimenta de outro que já estava morto, ele não é considerado predador, mas um detritívoro (ex. urubu).
Os predadores podem se alimentar de apenas de um tipo de presa (monófagos) ou predar vários tipos (polífagos). A preferência dos polífagos para uma determinada presa pode variar no tempo e depende do retorno energético (se a energia gasta na predação será compensada por uma maior quantidade de energia adquirida da presa) e do balanceamento da dieta (alimentação diversificada para conseguir diferentes nutrientes).
A ave da espécie Calidris alpina é um exemplo de predadora polífaga. Durante o inverno, ela migra de sua área de reprodução para um local mais quente (área de invernada), o estuário Tagus, em Portugal, para poder se alimentar. Estuários ocorrem na região de encontro de um rio (água doce) e um mar (água salgada). Durante a maré baixa, esse estuário apresenta pequenos habitats com diferentes condições ambientais (microhabitats): pequenas “piscinas” e áreas secas.
Um estudo de Granadeiro e colaboradores (2010) revelou que essas aves tinham comportamentos distintos e predavam diferentes animais em cada microhabitat. Em áreas com água, elas predavam principalmente um molusco bivalve (Scrobicularia plana) e em regiões secas, preferiram uma espécie de caracol (Hydrobia ulvae) e pequenos vermes. As observações foram feitas entre janeiro e fevereiro de 2006 nas quais as aves foram filmadas. Eles analisaram a taxa de bicadas e de tentativas de captura da presa, além da quantidade de energia que a presa podia proporcionar ao predador.
Havia praticamente a mesma abundância de cada uma dessas espécies nos microhabitats. Porém, a densidade de presas visíveis (disponíveis) variou consideravelmente. Os bivalves foram mais visíveis nas áreas com água e os caracóis e pequenos vermes mais facilmente localizados em áreas secas. Isso permitiu que, em cada microhabitat, houvesse uma preferência da ave por uma espécie em particular.
A energia adquirida pelas aves foi maior nas regiões com água, porque esses bivalves apresentam maior quantidade de energia e eram mais facilmente encontrados nessas regiões. Nas áreas secas, a predação de caracóis não era suficiente, pois grande parte de seu corpo é uma concha que não é digerida, e, portanto, não fornece energia. Para conseguir a energia que as aves precisavam, elas complementavam a dieta predando pequenos vermes. Poderia ser necessária até a predação durante a maré alta para conseguir energia suficiente.
A tendência na natureza é maximizar o ganho energético na predação. Os animais devem escolher presas que lhes darão o melhor retorno energético. Se a natureza prioriza a predação mais “rentável”, por que todas essas aves não se alimentam exclusivamente de bivalves?
Nem todas as aves se saíram bem na tentativa de captura de bivalves. Esses moluscos retraem o sifão quando o sedimento é perturbado. Sendo assim, a eficiência na captura de bivalves depende da habilidade individual de cada ave. Além disso, há competição entre elas e as que estão perdendo a disputa se alimentam de presas com menor valor energético.
A habilidade em capturar esses bivalves dependia também da idade. Indivíduos jovens possuiam maior dificuldade em predar esses bivalves, mas, aos poucos, iam aprendendo e adquirindo experiência. Aprender a predar presas mais energéticas é, portanto, muito importante para essas aves durante o período de invernada.
Referências bibliográficas
SANTOS, C. D.; PALMEIRIM, J. M.; GRANADEIRO, J. P. Choosing the best foraging microhabitats: individual skills constrain the choices of dunlins Calidris alpina. Journal of Avian Biology. 41: 18-24, 2010.
TOWNSEND, C. R.; BEGON, M. HARPER, J. L. Fundamentos em Ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2 ed., 2006.
BEGON, M., TOWNSEND, C. R., HARPER, J. L. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. Porto Alegre: Artmed, 4 ed., 2007.
Que texto legal para se trabalhar com os meninos na escola. Pelo menos é um bom exemplo. Adorei a suas colocações, foram muito pertinentes.
ResponderExcluirRafaela parabéns, você conseguiu transformar uma analise que poderia ser bastante complexa em simples e objetiva...
ResponderExcluirNichos diferentes intra-específicos. Muito legal! Exemplo muito interessante para ajudar os estudantes a criarem modelos que os ajudem a compreender a diversidade de comportamentos dos seres vivos ...
ResponderExcluirRafa, concordo plenamente o com a Lívia... você conseguiu colocar todos os conceitos em uma linguagem fácil e de melhor entendimento para os alunos, em um texto muito prazeroso de se ler.
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