terça-feira, 13 de abril de 2010

Peixe Esperto

É fascinante ver um cão obedecendo seu dono, entendendo quando dito para sentar, pegar objetos, rolar e até fingir de morto. Cavalos também fazem incríveis truques quando ensinados. Já viu algum peixe fazendo algo além de comer e nadar de modo quase apático? Imagine encontrar sinal de inteligencia em um peixe?

Cientistas austríacos demonstraram que peixes podem aprender truques. No experimento foi usado aquários especiais, onde havia uma barreira que protegia a comida de ser vista. Essa barreira também impedia que pistas olfativas chegassem até os peixes. O treinamento era feito atravéz de placas diferentes. O treinador colocava a comida atraz da barreira e em seguida levantava uma placa para ser vista pelo peixe. Elas davam pistas sobre o local onde o alimento era encontrado. A placa marcada com um "x" vermelho significava que a comida estava do lado direito, já a placa com um quadrado azul dava a pista ao peixe que a comida estava no lado esquerdo.

Os peixes, com o tempo, aprenderam a associar as placas ao local onde a comida estava, mostrando serem capazes de aprender esse truque. Mas os cientistas queriam também testar quais eram os peixes mais inteligentes dentre eles, e separou os em grupos distintos.

Um grupo era constituído por peixes que na juventude eram tratados com fartura de alimentos, e a comida era deixada perto deles. Um segundo grupo era o grupo de peixes que na juventude não eram bem alimentados. O tamanho dos peixes foi perceptívelmente diferentes após um certo tempo. O grupo de peixes que foram mal alimentados eram menores se comparado ao grupo dos peixes que eram tratados com excesso de comida. Então eles resolveram controlar a comida para que ambos os grupos chegassem a fase adulta com mais ou menos o mesmo tamanho e peso. Assim, aumentaram a comida dos que recebiam pouco e diminuiram a dos que recebiam muito. Um terceiro grupo era alimentado de forma constante da juventude à fase adulta.

Fig.1- Visão de cima do aquário. As placas eram colocadas nos respectíveis locais indicando a presença do alimento. O divisor de caminho fazia com que o peixe escolhesse um dos lados(direito ou esquerdo) antes de estar perto do alimento. Essa escolha era feita precocemente. O que no experimento confirmou que eles seguiam a recomendação do treinador que avisava a localização do alimento com uma das placas.



Então o experimento das plaquinhas foi feito novamente e dessa vez constatou que os peixes que eram tratados de forma constante eram "menos inteligentes" se comparados aos grupos que tiveram mudança na sua alimentação. Os peixes do grupo que receberam pouco alimento quando jovens eram os que reconheciam os sinais das placas e encontravam a comida de forma mais rápida que os peixes dos outros grupos.

Entretanto é bom lembrar que organismos mal nutridos tem seu desenvolvimento neural comprometido. Humanos, por exemplo, que tiveram períodos de desnutrição em seu desenvolvimento podem apresentar em testes de QI um baixo rendimento. No experimento os cientistas constataram que os peixes que foram mal alimentados, na verdade tinham pouca comida, nao deixando os completamente saciados, mas não tão pouca a ponto de comprometer o desenvolvimento neural deles.

Os motivos pelos quais os "menos alimentados" se mostravam mais espertos pode ser interpretados considerando o fato de que eles estariam sempre a procura de comida. Isso tornou possível que esses peixes desenvolvessem uma percepção maior, pois vistoriavam mais o ambiente e ao memorizar as placas, respondiam de forma mais rápida por, talvez estarem tentando não ficar com fome. O estímulo das placas foi imcorporado como uma estratégia de evitar a fome.

Notamos então que os peixes são mais inteligentes que a simpática e esquecida Dory, do Filme Procurando Nemo, que nos diverte com sua "memória de peixe".Eles usam estratégias no seu dia a dia, o que lhes permitem, na natureza, superar diversos desafios como procurar alimentos e escapar de predadores.Isso demanda certo nível de uso de memória e aprendizado. Quanto mais um animal usa suas habilidades cognitivas, mais ele estará preparado para superar problemas estressantes e adversidades presente em seu ambiente.


 

Referência:

-Kotrschal, A; Taborsky. B. Environmental Change Enhances Cognitive Abilities in Fish. PLoS Biol 8(4): e1000351. doi:10.1371/journal.pbio.1000351, 2010

-Filme: Procurando Nemo (Finding Nemo, 2003,EUA)

4 comentários:

  1. Dificil essa transposição de peixes para humanos: é claro que se estimulados todos, peixes, humanos, tartarugas, podem desenvolver melhor suas habilidades, mas mal nutridos não. É isso? Como estimular e nutrir completamente? Isso me remete a um problema cotidiano na minha função de educadora: quanto devo nutrir os alunos de respostas e quanto devo deixá-los "com fome"?

    E sobre a Dory, alguém mais além de mim se identifica profundamente com ela?

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  2. Interessante mesmo Abmael, a modulação do comportamento é possível de se fazer, nos vários animais com um desenvolvimento neuronal e cerebral um pouco maior. Infelizmente não acho muito legal fazer isso com animais, a troco de diversão..., no entanto,cientificamente, pode ter um valor extremamente grande.

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  3. Muito legal Abimael... interessante descobrir a capacidade "intelectual" dos peixes (mesmo que eles tenham que ficar sem comida, coitados!!!).

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  4. Como comentei com Abimael, pessoalmente: é interessante como caiu bem a utilização dos personagens de Nemo - peixes "nada peixes" - para falar de um estudo o qual, na nossa visão instintiva humana, avalia uma característica também humana em peixes.

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