terça-feira, 20 de abril de 2010

A utilização de "webquests" para o ensino de Genética e Biologia Molecular



A Biologia Molecular é uma das áreas das Ciências Biológicas que mais vem crescendo e gerando grande quantidade de novas informações, as quais a escola não consegue acompanhar. Uma grande aliada da Biologia Molecular é a internet. Para que haja um efetivo aprendizado, deve haver uma interação planejada entre práticas didáticas e a utilização do computador.


Sabemos que já existem laboratórios de informática nas escolas públicas do Brasil, mas eles, por si sós, não garantem a aprendizagem. Os computadores e a internet devem ser utilizados de forma a maximizar as possibilidades de aprendizado do aluno. É indispensável também um treinamento dos professores, além do incentivo para realizar novas atividades e não ficar apenas presos ao quadro e ao giz. A internet abre várias possibilidades, e a função do professor é orientar a forma de estudo dos alunos, assim como motiva-los. E como ensinar utilizando o computador de forma simples, direta e efetiva?


Segundo Carlan e colaboradores (2010), uma metodologia chamada “webquest” foi criada em 1982 por Dodge e March e consiste em uma investigação a ser cumprida por um grupo de alunos utilizando a internet. As atividades a serem propostas extrapolam o período de aulas. Para serem motivadoras, essas tarefas devem ser criativas e permitir que os alunos se sintam como se fossem cientistas e/ou artistas. Uma webquest é dividida em: introdução, tarefa, processo, avaliação e conclusão. Existe um site que permite a criação e o armazenamento de webquests (ver links abaixo).

Carlan e colaboradores (2010) decidiram montar uma webquest cujo tema fosse deficiente nos livros didáticos de Biologia do Ensino Médio em comparação com o conteúdo da internet. Escolheram o tema “ácidos nucléicos: composição, estruturas e funções” enfocando principalmente o DNA. Eles acreditam que os conteúdos dos livros não permitem uma correlação com outros assuntos da Genética e da Biologia Molecular. Além disso, na escola os ácidos nucléicos são estudados no primeiro ano e a Genética só é ensinada no terceiro ano do Ensino Médio, dificultando o entendimento e a correlação entre as matérias. E nos livros não há sugestões de experimentos ou observações sobre o tema. Já na internet, em muitos sites, o aluno pode interagir com o material, fazer experimentos, observar moléculas tridimensionalmente, e correlacionar o DNA à Biologia Molecular e à Genética (ver links abaixo).


Os objetivos do trabalho foram: verificar se essa webquest despertaria o interesse dos alunos; se haveria interação e troca de experiências entre alunos e professores durante as atividades; se seria possível juntar webquest a atividades experimentais; e se aprenderiam mais sobre o assunto que alunos que não realizaram as atividades.


A introdução foi apenas uma visão geral do conteúdo, assim como está presente nos livros. As tarefas foram a partir de instrução de buscas e questões diretas, utilizando links de sites cujo tema era o DNA, com figuras e animações. O processo consistiu no acesso a três sites indicados para a realização de experimentos que seriam realizados em casa (extração de DNA de morango utilizando materiais domésticos: álcool, sal e água).


Fig. 1. Extração de DNA do morango a partir de materiais domésticos


A avaliação foi o preenchimento de dois questionários. Um sobre o conteúdo, e apenas quem fizesse o experimento teria condições de respondê-lo. E o outro, no final, para responder livremente o que achou da utilização das webquests. A conclusão, ao invés de resumir todo o conteúdo, sugeriu a criação de uma molécula de DNA pela arte do origami. Durante a montagem, foi necessário associar informações e relembrar conteúdos estudados durante a webquest.


Os alunos participantes tinham entre 16 e 18 anos e foram voluntários fora do período de aulas. Percebeu-se a motivação, a colaboração e troca de saberes de alunos entre si e com o professor. Os alunos se focaram nas atividades não utilizando sites de relacionamento durante as atividades. O questionário aplicado sobre o conteúdo teve bons resultados para temas utilizados na webquest, e os alunos consideraram todas as atividades positivas. É possível utilizar a internet como uma aliada do professor no ensino. As webquests, juntamente com atividades práticas, são ótimas ferramentas para o ensino de Biologia de forma moderna, simples e criativa.


Referências bibliográficas:
CARLAN, F. A. SEPEL, L. M. N.; LORETO, E. L. S. Aplicação de uma webquest associada a atividades práticas e a avaliação de seus efeitos na motivação dos alunos no ensino de Biologia. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, Vol.9, Nº 1, 261-282 (2010).

9 comentários:

  1. Olá pessoal. Acabo de ler esse texto, muito bem escrito e explicado por sinal. Mas eu senti muita vontade de fazer uma observação. Preciso apenas fundamentar minha idéia com a passagem abaixo:
    "Os alunos participantes tinham entre 16 e 18 anos e foram VOLUNTÁRIOS FORA DO PERÍODO DE AULAS. Percebeu-se a motivação, a colaboração e troca de saberes de alunos entre si e com o professor".
    Eu tenho a impressão que esse tipo de amostra (alunos voluntários para trabalhos extraclasse) tende a obter o tipo de resultado observado pelos autores. Acredito muito que por traz do aluno que é voluntário (para trabalhos extra classe ainda) já exista a pré-disposição para interagir com a proposta de trabalho e o interesse em fazê-la da melhor forma possível. O que eu to querendo explicar é que eu gostaria muito de ver um trabalho semelhante onde todos os alunos fossem questionados se gostariam ou NÃO de trabalhar com a proposta e fosse medido também o nível de interesse que a idéia desperta dentre eles e o porque desse interesse. Simplesmente porque eu acredito muito que, assim como nosso blog, uma webquest seria ainda mais interessante acessada fora das aulas por iniciativa do aluno e não por alguma obrigação.
    Desculpem o tamanho da postagem.
    abraços

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  2. Olá. Rafa, achei muito interessante a idéia. Resolvi conferir de perto o programa, entrei no site, baixei, mas ainda estou apanhando para fazê-lo rodar sem erros. Um outro incoveniente seria o fato de sua disponibilidade apenas em espanhol ou inglês. No entanto, como ele é feito em PHP + MySQL, o código é aberto e podemos editá-lo para traduzí-lo.

    Víctor, eu ia fazer exatamente a mesma observação sua. Talvez o artigo original forneça detalhes sobre o método utilizado para a seleção dos "voluntários". Quanto ao tamanho da sua postagem, não sei os outros, mas eu te perdôo, rsrsrs ...

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  3. Aprecio trabalhos que nos dão mais subsídios para propor formas lúdica de transmitir e construir conhecimento.

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  4. Muito bacana a idéia dos webquests, turma, e parabéns pelo novo visual do blog que ao meu ver está ficando cada vez mais interessante e útil.
    Me baseando no comentário do Vítor, acho que o interessante em envolver todos os alunos na utilização de uma atividade como webquest, seria o desenvolvimento de uma metodologia que mensurasse o quanto essa ferramenta pode melhorar o desempenho dos alunos. Talvez a comparação entre nota de dois grupos de alunos que fizessem a mesma avaliação, sendo que um grupo teria participado da atividade web quest e o outro não. O quanto a atividade extra-classe seria útil na melhoria do desempenho e interesse dos alunos?

    Abraços, Waldir

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  5. Gente, obrigada pelos comentários que geraram certa polêmica. Desculpem, quis ser sucinta, acabei não sendo tão clara.

    As duas turmas do trabalho eram compostas por 33 alunos, sendo que 12 alunos de cada turma participaram das atividades... Discutem por que foram mais meninas que quiseram participar (mulheres são mais motivadas e curiosas, rs)além de serem maioria na turma.

    Vitor, eles defenderam a participação voluntária que foi útil para "não interferir no cronograma e no planejamento da escola e detectar o nível de curiosidade das turmas em relação ao trabalho proposto". Mas realmente o que vc sugeriu é importante!


    Érico, o site http://livre.escolabr.com/ferramentas/wq/ foi citado como uma "versão" do site do professor Temprano que criou esse programa... talvez seja mais fácil de mexer!

    Waldir, obrigada pela sua participação. Os autores sugeriram também comparar o desempenho desses alunos com o dos que não participaram, mas esses ainda iriam ter aulas dessa matéria de forma tradicional. É só aplicar o mesmo questionário aos alunos que não participaram da webquest.

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  6. Inicialmente, seja muito bem-vindo ao Blog, Waldir! :D

    Oi, Rafa! Obrigado pelos esclarecimentos e pelo link. Não se preocupe, você foi bem clara no texto, sim! Só que não dá pra prever o que os loucos que estão lendo vão querer saber, e pra isso mesmo (também) servem os comentários.

    Eu acessei o link que você mandou, e tenho algumas observações. Não visitei todas as webquests (me concentrei nas de Biologia para o Ensino Médio), mas fiquei um pouco desapontado com o que achei lá. Não sei das potencialidades todas do software, mas as webquests prontas que vi me lembraram muito aquela estória de se substituir o quadro negro pelo datashow mas a aula continuar sendo igual. O que está lá poderia ter muito bem sido feito em sala de aula - a única vantagem (se é que é vantagem mesmo) é que o aluno tem que entrar na internet para ter acesso à proposta de trabalho. Houve uma única webquest dentre as que vi na qual havia sugestões de links. Eu esperava mais. O que você achou? Alguém mais acessou? O que acharam?

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  7. É Érico, também achei que as webquests fossem mais interessantes... mas acho q tem um potencial grande de ser legal, depende da idéia e do criador da webquest!

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  8. Rafa bem interessante, no entanto, como para todas as coisas eu preciso fazer para entender realmente o que aquilo propõe. Entendi sim em partes o que é a proposta, mas nada como tornar isso palpável, infelizmente, não terei tempo para me dedicar a ver e aprender a mexer em um desses websites e deixo aqui a proposta para que alguem que tenha aprendido, vulgo Érico, possa nos apresentar um dia. =P

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