Em pequenas porções

Às vezes, em alguns momentos filosóficos da vida, nos deparamos com pensamentos que na maioria das vezes não terão respostas. Um desses pensamentos é de como a vida possui todos esses mecanismos que nos permite ser o que somos e ainda mais, ela, a vida, ser como é. Hoje sabemos que os átomos formam as moléculas e que estas dependendo das suas características vão ou não expressar vida. Algumas serão apenas suporte e outras essenciais. Dentre essas moléculas essenciais temos as proteínas. Elas realizam todas as funções da vida, desde a sua constituição até a uma simples captura de qualquer outra substância. Mesmo quando seres vivos relacionam-se entre si, elas estão agindo de algum jeito para que isso aconteça. No mecanismo de parasitismo, neste caso, de indivíduos unicelulares como os protozoários, elas se transformam no ponto-chave para que essa interação ocorra.

O artigo publicado na última edição do Journal of Molecular Biology, intitulado “Full-length recombinat Plasmodium falciparum VAR2CSA binds specifically to CSPG and induces potent parasite adhesion-blocking antibodies” traz à tona como o entendimento molecular sobre sítios moleculares de adesão podem permitir o desenvolvimento de vacinas contra o P. falciparum, o protozoário causador da malária.


Durante a infecção, esses parasitas expressam uma simples e única proteína que é capaz de se aderir especificamente a uma variedade receptores humanos. Em mulheres grávidas, eles produzem uma variação dessa proteína que possui um sítio capaz de se aderir à placenta. Como maneira de prevenção, essas mulheres produzem anticorpos capazes de prevenir essa adesão e assim proteger ela e o bebê dos efeitos da malária. Sendo assim, essa molécula de adesão do protozoário poderá ser usada como vacina, ou seja, como uma maneira de se criar anticorpos que impeçam a adesão desse parasito às células-alvo. A grande dificuldade para se implantar essa vacina é o fato de ainda não se possuir purificado o antígeno responsável pela indução da produção deste anticorpo. Neste trabalho, os pesquisadores estão tentando purificar em uma secreção extracelular o sítio nativo de adesão que é capaz de induzir a produção de um anticorpo que podem ser reativos à essa proteína e impedir a adesão do parasito.

O artigo obteve sucesso no desenvolvimento do antígeno em laboratório e na indução da produção do anticorpo, no entanto, ainda é necessário estudar a resposta do anticorpo, o mecanismo de inibição e o desenvolvimento de protocolos. Para se chegar a esse resultado, foi necessário utilizar-se de diversas metodologias científicas para que o resultado fosse o mais correto possível. O método científico não está baseado apenas no fazer científico, na prática científica, mas sim em todo o processo que se leva a essa prática. A observação de fenômenos para a elaboração de hipóteses pode ser considerada a parte primordial e até mesmo a mais importante para a elaboração do conhecimento científico. Assim, não foi somente deduzir que há uma molécula que liga o parasito à célula o necessário para se produzir a vacina, foi necessário desvendar os mecanismos de adesão nesse parasito especificamente, uma vez que ele varia de parasito para parasito, as moléculas envolvidas nisso, todas as propriedades químicas e físicas que compõe essa interação. Com isso, fica claro a importância da interdisciplinaridade dos grupos de trabalho para o desenvolvimento de conhecimentos teóricos-práticos (já que não é mais possível, no atual contexto, a separação desses tipos de conhecimento, assim como também não existe a diferença entre ciência básica e aplicada).

A vida possui mecanismos que muitas vezes não envolvem “seres vivos”, mas que são essenciais para a própria existência da vida, assim, o entendimento desses mecanismos moleculares se faz fundamental para o entendimento da vida.

Maísa Santos da Fonseca

7° período de Ciências Biológicas - UFSJ