terça-feira, 20 de abril de 2010

Mais um elo na origem da espécie humana

A Paleontologia (do grego: palaiós = antigo / óntos = ser / lógos = estudo) é a ciência natural que estuda a vida do passado da Terra e o seu desenvolvimento ao longo do tempo geológico, bem como os processos de integração da informação biológica no registro geológico, isto é, a formação dos fósseis. Recentemente foi descoberto o fóssil* do que parece ser o ancestral mais recente do gênero Homo no qual se encontra a espécie humana (Homo sapiens).

O Australopithecus sediba, como foi denominado, foi encontrado na África do Sul (país situado no extremo sul do continente africano) em uma reserva natural privada, na caverna Malapa, região situada a cerca de 40 Km de Joanesburgo. O nome Australopithecus, em latim significa: australis "do sul", e do Grego pithekos "macaco", ou seja, Macaco do Sul. Geralmente denominados dessa maneira espécies ancestrais quase tão bípedes quanto os chimpanzés. Já a palavra sediba vem da liguagem Sotho, falada dentre suas variáveis por cerca de 16% da população da África do Sul, onde quer dizer fonte (em sotho - sediba = fonte).

O primeiro fóssil, uma clavícula do Australopithecus sediba, foi encontrado, por acaso, no dia 15 de agosto de 2008 por Matthew Berger (9 anos), filho do pesquisador sul africano Lee Berger. O menino alertou o pai que juntamente com a equipe dirigida pelo paleoantropólogo suíço Peter Schmid da Universidade de Zurique, que já trabalhava há anos em outros sítios na região, começaram a fazer as escavações no local. Segundo Schmid rapidamente ficou claro para o grupo que os fósseis encontrados se tratavam de algo novo, devido as inúmeras características apresentadas. Até então, já foram encontrados mais de 180 elementos de pelo menos quatro indivíduos de um ancestral do ser humano que viveu entre 1,78 e 1,95 milhão de anos. Dois desses indivíduos – um jovem de cerca de 13 anos e uma mulher adulta de aproximadamente 30 anos – foram descritos por Schmid, Berger e colaboradores.

Os Australopithecus sediba possuíam um cérebro muito pequeno e braços muito longos, próprios dos australopitecos, mãos curtas, um rosto muito avançado, com um nariz e dentes pequenos, um quadril para caminhar erguido, pernas longas e uma cavidade craniana similar à de hominídeos muito posteriores como o Homo erectus e o Homo habilis, com capacidade de cerca de 450cc muito inferior a dos homens atuais que, em média é de 1500 cc.

O A. sediba compartilha mais traços com os primeiros Homo do que qualquer outro australopiteco e por isso pode ser seu antecessor ou parente de um antecessor que coexistiu durante um tempo com o Homo. A partir de agora, segundo Schmid, não pode-se chamar 'Lucy', (fóssil encontrado na Etiópia em 1974) de elo perdido entre macacos e seres humanos. "A nova descoberta é um elo real na cadeia entre Lucy e o homem moderno. Pode ser uma verdadeira chave para entender o precursor do gênero Homo."

Os fósseis encontrados do A. sediba fornecem, com riqueza de características, dados fundamentais para a descrição dos hábitos das espécie dentre outras características. Nos fósseis foram encontrados restos vegetais ainda encrustrados entre os ossos e um dente fossilizado ainda continha restos de comida, ou seja, os achados estão em um nível de conservação muito bom. Exames preliminares detectaram a existência de tecido cerebral degenerado por bactérias em uma área de baixa densidade do crânio, o que pode evidenciar a existência de um remanescente de cérebro primitivo.

Nesse imenso quebra cabeça que envolve as origens da espécie humana, mais uma peça foi encontrada, ainda é cedo para dizer onde ela se encaixa, até porque faltam algumas peças ainda para dar maior sentido a figura montada, o fato é que mais um passo importante foi dado na explicação da origem da raça humana.

*Fóssil - restos de seres vivos ou vestígios de atividades biológicas (ovos, pegadas, etc.) preservados nos sistemas naturais.

Referências Bibliográficas:

Berger L. R, de Ruiter D. J, Churchill S. E, Schmid P, Carlson K. J, Dirks P. H. G. M, Kibii J. M, (2010). "Australopithecus sediba: A New Species of Homo-like Australopth from South Africa ". Science 328: 195-2004. DOI:10.1126/science.1184944

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Elo perdido,adoro essa expressão! O engraçado é que meu interesse pelo campo das Ciências Biológicas foi despertado pelas extintas figurinhas sobre dinossauros que vinham no Chocolate Surpresa. Mas realmente passei a gostar de paleontologia quando aprendi sobre Evolução. É fantástico! (Bonito texto, Victor!)

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  3. Muito bom vocês estarem postando assuntos contemporâneos da Biologia aqui no blog. Dessa forma ele (o blog) deixa de ser um espaço de divulgação institucional e passa a ser uma verdadeira ferramenta para professores veteranos, iniciantes ou mesmo alunos!

    Parabéns,

    Waldir

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  4. "Por quê?". Após anos infantis de frustrações, conscientes da generalidade absurda da pergunta e, assim, tentando aumentar nossas chances de obter qualquer resposta, dividimos esta dúvida visceral em outras perguntas menos inespecíficas como "de onde viemos?".

    Muito mais antiga que a ciência contemporânea, esta pergunta já carrega consigo uma bagagem cultural de respostas que tende ao infinito, se mantendo viva nos conhecimentos tradicionais, populares, nos livros e agora na Internet. Deve ser por isso que, mesmo que sob o ponto de vista das ciências biológicas a descoberta de qualquer fóssil próximo à nossa linhagem (seja ele um primata, um lofoforado ou uma arqueobactéria) tenha uma relevância equivalente na resposta a esta pergunta, a investigação de fósseis que representem um elo de ligação entre um estrito "nós" e um "não-nós" acaba sempre obtendo uma maior repercussão que as demais.

    Na perspectiva da educação, acho que a consciência sobre esta confluência cultural é necessária. Como divulgadores da ciência e futuros docentes encarregados (entre outras coisas) de ensinar ciência, devemos investigar e explorar aquilo que representa um interesse mais visceral para cada grupo de pessoas ou aluno como ponto de partida, como conjunto de conhecimentos, experiências e motivações prévios para a construção de novos. Foi muito bem explorado isto, no texto.

    O comentário do Abimael me fez lembrar que eu também gostava dos dinossauros do chocolate Surpresa e, fazendo um esforço para lembrar os motivos, acho que eram basicamente dois: 1) tinha algo para me distrair enquanto saboreava o chocolate (que, aliás, era muito bom), fazendo com que eu conseguisse comer devagar e fazer o prazer perdurar mais e 2) ficava tentando relacionar os dinossauros das figuras com os que eu tinha visto recentemente no filme "Jurassic Park". Nada "científico" (no sentido contemporâneo), diga-se de passagem. Fico me perguntando como eu usaria isso para tentar ensinar biologia para o meu "eu guri".

    Abimael, não sei se você já viu, mas imagino que seu "eu guri" gostaria de uma notícia relacionada a fósseis que vi recentemente:

    http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2010/04/07/53071-fossil-revela-que-velociraptor-comia-carnica.html

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  5. Acho que não sou tão menino assim , rs, achava os dinossauros interessante, mas não sei se foram determinantes para minha escolha. Também nunca entedi direito o conceito de evolução e nem mesmo o que ela significava, sabia simplismente que a origem não foi por meio de Adão e Eva. Gosto de ver essas coisas, ela são palpáveis e necessitam de certa imaginação, mas o mais importante, são prováveis cientificamente. Adorei!

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