segunda-feira, 19 de abril de 2010

MALÁRIA: UMA AMEAÇA NÃO SÓ PARA HUMANOS

Na escola sempre estudamos sobre parasitismo, uma relação que desencadeia numerosas doenças nos hospedeiros (indivíduos pasasitados). O parasitismo ocorre com a interação entre um parasita e um hospediro: essa relação é dita positiva para o parasita (que retira do hospediro nutrientes necessários para sua sobrevivência), enquato é negativa para o hospedeiro (o qual é prejudicado pela perda de substâncias importantes para o correto funcionamento de seu organismo).

São conhecidos dois tipos de parasitos: os ectoparasitos e os hemoparaitos. Os ectoparasitos, são parasitos externos, que habitam a parte externa do corpo do hospedeiro, como os carrapatos, pulgas e piolhos. Já os hemoparasitos são parasitos internos (e por isso são também chamados de endoparasitos), sendo localizados no sangue de seu hospedeiro. Um bom exemplo de hemoparasitos são os causadores da malária.

De acordo com estudos de Bongfen e colaboradores (2010), cinco espécies diferentes de hemoparasitos do gênero Plasmodium, pertecentes ao filo Apicomplexa, causam a malária em humanos. Porém, não são somente os seres humanos que sofrem com a malária, que também é uma doença muito comum em aves, motivo pelo qual a malária vem recebendo cada vez mais enfoque nos estudos para a conservação de muitas espécies aviárias ameaçadas de extinção.

Estudos sobre a malária aviária vêm sendo cada vez mais frequentes para a conservação da avifauna porque doenças parasitárias costumam ser um importante fator limitante do tamanho de populações naturais, uma vez que espécies com pequenas populações, resultantes de falhas na reprodução e/ou mortalidade decorrente de doenças, podem ser levadas à extinção.

Ao contrário da malária humana que é ocasionada somente por hemoparasitos do gênero Plasmodium, a malária aviária é ocasionada por diferentes espécies de hemoparasitos dos gêneros Plasmodium, Haemoproteus e Leucocytozoon, todos pertencentes ao filo Apicomplexa. Destes, Plasmodium e Haemoproteus infectam hemácias, enquanto que Leucocytozoon infecta leucócitos.

Fig. 1 - Células sanguíneas aviárias infectadas por Plasmodium, Haemoproteus e Leucocytozoon. Hemácias infectadas por Plasmodium (A), hemácias infectadas por Haemoproteus (B), leucócitos infectados por Leucocytozoon (C).


Estudos relizados por Nagao e colabradores (2008), sugerem que o P. gallinaceum (uma espécie de hemoparasito causador da malária aviária capaz de infectar uma grande variedade de aves, e provocar altas parasitemias - infecções altas), induzia a modificação da superfície das hemácias (células sanguíneas vermelhas) que ele infectava; modificações estas que podem ser semehantes às modificações causadas pelo hemoparasito da malária humana P. falciparum, o que induz saliências semelhantes que medeiam a adesão patogênica das hemácias parasitadas em microvasos.

Fig. 2 - As alterações nas hemácias podem levar ao rompimento dessas células, o que ocasiona um dos principais sintomas da malária, a anemia.


A infecção por hemoparasitos pode ser assintomática, apresentar complicações menos graves, bem como levar ao óbito do hospedeiro - o que vai depender de como está o sistema imune do hospedeiro. Deste modo, diante do exposto fica claro que estudos sobre a malária aviária juntamente com a redução ou completa eliminação dos mosquitos vetores (insetos que transmitem os hemoparasitos causadores da malária aviária), são cada vez mais importantes para que se haja uma preservação mais efetiva da avifauna, uma vez que a malária tem um alto efeito na dinâmica populacional, pois pode impedir uma reprodução eficiente das aves infectadas e até causar o óbito de muitas delas; um efeito que pode ser devastador em populações de aves ameaçadas de extinção, as quais podem desparecer de vez do nosso planeta.



Referências Bibliográficas:


- BONGFEN, S. E.; LAROQUE, A.; BERGHOUT, G.; GROS, P. Genetic and genomic analyses of host-pathogen interactions in malaria. Trends in Parasitology, v. 25, n. 9, PP. 417-422. 2010.

- NAGAO, E.; ARIE, T.; DORWARD, D. W.;FAIRHURST, F. M.;DVORAK, J. A. The avian malaria parasite Plasmodium gallinaceum causes marked structural changes on the surface of its host erythrocyte. Journal of Structural Biology, v. 162, pp. 460–467. 2008.

4 comentários:

  1. Puxa vida, nunca tinha lido nada a respeito desse tipo de doença em aves. Normalmente nós (seres humanos) tendemos a acreditar que algumas doenças que acometem nossa saúde apenas diz respeito à nossa espécie, talvez essa displicência seja um fator que permite que, em pleno século XXI, com toda informação e acesso que temos, surjam doenças como a Gripe A (H1N1) e a gripe aviária (H5N1) que só são percebidas quando a disseminação já foi feita e o controle já está muito mais difícil de ser efetuado. Tomara que não surjam malárias aviárias para acometer nossa saúde.

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  2. Márlon, muito bom seu texto.
    Linguagem simples e de fácil entendimento com um tema muito atual e importante.
    Parabéns!

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  3. Muito bem explicado!!! A imagem é muito fofa!!! Q bom q poderemos colaborar com nossos estudos sobre esses parasitos em aves ameaçadas (maçarico), rs!

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  4. Impressionante! É bom ler textos assim, para eu que sou leigo no assunto, pois muitas vezes a gente nem imagina que a "salvação" de uma espécie em extinção está no "simples" controle de doenças e vetores.

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